quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Kit de sobrevivência cultural


Convém sempre estar atualizado. Nos tempos que correm, antes de nos debruçarmos sobre a obra, nada melhor do que alicerçarmos conhecimentos. E como amigo prometeu deixar-me fazer consulta, aí estou eu no afinamento ótico e auditivo, ganhando peito para deambular entre a semântica e a sintaxe.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

De livro fechado não sai letrado

Na minha adolescência li um livro, que hoje já  não seguro o nome do título, nem do seu autor. Mas a essência da obra, resume-se, a um quadro-obra de arte, ou com pretensões a tal, e as diversas interpretações que cada um dos visualizadores daí aferia. O quadro encontrava~se numa sala de uma casa. E as pessoas iam vendo, em situações diversas, e daí davam a sua opinião interiorizando ou exteriorizando-a baseada num conjunto de múltiplas vivências acumuladas. As opiniões eram obviamente as mais díspares. Mas todas elas assentes em conteúdos de filosofia de vida de acordo com quem analisava.


SALOIOS EM LISBOA - Stuart Carvalhais (1887-1961). Tinta da China aguarelada sobre papel (25 x 30 cm). Colecção particular

Vem isto a propósito de um conhecido jornal, que semanalmente coloca ou colocava, àqueles a que chamam figuras públicas, determinadas fotos e a partir daí, estes fazem uma interpretação daquilo que cada uma representa. O vazio é muito. Mas quem anda por sítios onde se julga mais à vontade e a exposição é maior, o tombo aí não tem medida.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

“Ustedes, no pasarán!”





O deputado da coligação basca Aimur, Sabino Cuadra intervindo no parlamento espanhol. Um discurso para qualquer pátria do sul da Europa. E não só.

sábado, 21 de julho de 2012

A trombeta do Zeferino


«...Sabem os locais, a história da trombeta do Zeferino. Uma história que não é única. São várias histórias metida numa só história: a que deu a história da trombeta do Zeferino.
Já lá vão uns anos e apesar das intempéries a barraca mantém-se armada. Dizem que soube chegar a palha ao burro. Se assim é, e parece que é mesmo, os dos Dois Dedos de Testa não tem ouvidos para tal zumbido. E os mulos, por aí andam berregando em todo o canto e esquina de Parvónia de Cima. Hoje pela matina, já tinham passado na manjedoura e diziam que os alqueires de ontem eram tão grandes como os que aí vem neste Verão. Falavam de duas bolsas. Alguém lhes tinha encomendado aquelas falas, ou o canjirão já tinha sido enfiado goelas abaixo, dado o rubor do rosto do Nelo Barriga de Balas. Esqueceram-se que o Cura, com a sua voz calma e pousada, ontem tinha dito, que este ano  a festa dos moços da sua terra, está próxima e os sinais desanimam. Mas o Quicas Rebuçado e o Nelo Barriga de Balas dizem que os outros vivem noutra terra....»

in "Un galego é sempre un galego" Gonzalo Galvan

domingo, 15 de julho de 2012

Sol na aldeia


                                               Arca - Ponte de Lima
                                               


 Ao domingo, logo pela manhã, olhamos mais para o sol. Talvez porque há mais tempo e estamos mais abertos com a natureza. É o azul do alto, o branco das esquinas e do casario. O verde dos campos e montanhas. 
 O sol terá todos os adjetivos possíveis. Um, reunirá toda a sua essência e substância. Aquilo que só nós, sentimos e não encontramos no voo das palavras, que é a forma do descrever. O sol que é o mundo e árvore é a vida. Também é assim na minha aldeia.

sábado, 7 de julho de 2012

Franco-atirador raiano




 O coeficiente 4,5 é o mínimo aplicável. Assim se atira ao bolso do incauto, que para manducar aqui assenta traseiro. Ali parece não haver hortas, nem mercado, nem lavradores, nem produtores de vinho. Só câmaras  congeladoras para manter resistente a plástica sargentada hortícola, que da terra de Papin veio fazer guarnição a um postiço general, quiçá vindo do Pacífico, em detrimento do superior escandinavo. E não ficou por aqui, a condição desta tropa francesa. Serviu também de acompanhante ao rijo chibo, já veterano, mais próprio para deleites bairradinos.
 Tudo isto não aconteceu  no massificado Algarve.
Cuidado, se sair de casa, não esqueça: há sempre um sniper perto de si!

domingo, 1 de julho de 2012


Tenho dificuldade em catalogar as cores.Sei que há tons, misturas, matizes. E cores únicas tocadas pelo simbolismo. Vem hoje isto a propósito, daquela nuvem de cartolina de um azul frágil e profundo, que te deixaram, dizendo-nos que lhes fazes lembrar as andorinhas e a alfazema . Só elas, as crianças, sabem explicar-nos essas coisas, Se Manel.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Silêncio que se vai cantar o fado



 Aconteceu no concerto de Mariza, com Dulce Pontes e agora no do Carminho. Há pessoas que provavelmente não vão suficientemente motivadas para assistir a determinado tipo de espetáculo, ou pior que isso, a não deixarem assistir quem quer usufruir do mesmo. Na quinta feira passada, através de grafonolas vizinhas, tomei conhecimento que o pai da Teresa não  ainda não tem alvará; que a Susana se divorciou “do homem”; que a Tina e o Carlos estão à rasca para pagar a casa ao banco; que o Ângelo não tem emprego nas pedreiras e que já lhe tinham  tirado quinhentos euros por mês; no capítulo das fragrâncias, também ficamos a saber que o perfume dos chineses cheira a mijo de gato. Foi um emissão de notícias cor de rosa,fora de sede própria. Enfim, quase um zapping entra as novas da socialite life local e os fados de Carminho.

É provável  que alguma, ou muita desta gente, vá no séquito camarário das borlas, sempre convidativo ao passar por lá e, se não for por mais nada, nem que seja para dar uma vista de olhos, sei  lá, ver alguém. Tudo bem.Mas façam o favor de deixar ouvir quem pagou o seu bilhete, porque gosta deste tipo de música. Já no velho épico da cinemateca nacional “A Canção de Lisboa” entre palavras perdidas dos boémios pedia-se:”Silêncio que se vai cantar  fado”. Que se soltem os acordes musicais das guitarras, das violas e das vozes que assim cantam Portugal e que nos deixem escutar.

sábado, 2 de junho de 2012

Contracorrente






 No meio de tanta adversidade social e económica, não é fácil organizar um evento de cariz cultural. Mas mais de que isso, é manter uma certa dinâmica e um espaço vivo constante de mostra e partilha de projetos de índole diversos. Isto por que há gente nova, com espírito criador e vontade de afirmação, capaz de trazer a público uma cultura multifacetada, que quebra com uma certa submissão aos saberes assentes em perspetivas, viradas apenas para um habitualmente reinante passadismo dogmático. É um rasgo de inovação que nos dá prazer desfrutar. Faz-nos ver que, há outras coisas para além do gadídeo acompanhado das loiras liliáceas às rodelas; do rijão e das pomposas delícias sarrabulhentas; dos berros das chusmas e das vuvuzelas aborígenes. Fiquemos então contentes, pois por aqui, também há outra cultura.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Mais de 30 000 anos de história






 Este filme é uma visita à gruta de Chauvet, descoberta em 1994 no sul de França. Constitui, com Altamira e Lascaux, um dos mais significativos locais arqueológicos do mundo. Com cerca de trinta a trinta e dois mil anos, grande parte dos quais passou oculta, provavelmente devido a um deslizamento de terras que ocultou a sua entrada. 
 Excecionalmente, foi permitida a entrada ao realizador alemão Werner Herzog e a uma equipa restrita de técnicos, que a filmou. Foi dado ao mundo uma recolha de imagens sensacionais, desde o fabuloso chão de calcite, até ao fascínio das pinturas rupestres com cavalos, mamutes, ursos, rinocerontes lanosos. Para os historiadores é, sem dúvida, uma lição de Paleolítico. Mas para aqueles que também gostam de desenho, trata-se de uma autêntica apologia do mesmo e da fabulosa invenção que foi, e é, a representação de figuras. O caráter transcendente, simples e enigmático da comunicação visual impondo-se ao da linguagem gestual ou verbal.

sexta-feira, 11 de maio de 2012



Tenho, entre muitos outros, um defeito: sou preguiçoso. Prometo a mim mesmo, fazer uma série de coisas e adio-as quase eternamente. Uma dessas coisas que prometo a mim mesmo é escrever com certa regularidade, coisa de que gosto. Criei, em tempos um blogue a que, até a data, não dou grande actividade nem importância de maior, só registando evidências quando elas me tocam de dor, ou seja com o punhal da morte. 

Vem isto a propósito de que, hoje, quando entrava no carro a rádio noticiava o desaparecimento de alguém que conheci, ainda criança. Exerci mestria no grupo em que se integrava. Lembro-me de alguns breves episódios vividos no contexto do meu exercício profissional. Ele, como tantos outros, depois de completado determinado ciclo de aprendizagens, desapareceu do nosso horizonte de relacionamento.   Até que vem um dia, em que alguns nos abordam, referenciando-nos em determinado sítio em certo tempo. Tempo esse, que a eles e elas, lhes transformou o rosto de crianças em homens e mulheres de vida. A nós adultos, esse carregar dos dias aos olhos deles pouco se alterou. Há quem não sinta qualquer vontade de trocar palavras, por não gostar, por acanhamento ou comodismo. Mas há muitos outros que reagem de forma diferente. Assim aconteceu com ele. Subia eu o Chiado, com amigo e colega, que os deuses também prematuramente me roubaram e ouvimos chamar pelo nome da nossa profissão. Ambos olhamos. Vi que a grandeza dos palcos em nada tinha mexido com ele. Continuava menino de ligeiras sardas e cabelo liso. Falamos muito rapidamente de muita coisa, que podia ser nada e só ter um significado:gostamos de nos rever
 Entre a ânsia da fazer perfeito, de decididamente apaixonar-se por aquilo em que se envolvia, entre a agitação das ondas do mar e sei lá se alguma crise de existência, dedilhou a sua superior sensibilidade no derradeiro concerto entre a natureza e a vida. 
Ficamos com um recital adiado.