Tenho, entre muitos outros, um defeito: sou
preguiçoso. Prometo a mim mesmo, fazer uma série de coisas e adio-as quase eternamente. Uma dessas coisas que prometo a mim
mesmo é escrever com certa regularidade, coisa de que gosto. Criei, em tempos
um blogue a que, até a data, não dou grande actividade nem importância de maior,
só registando evidências quando elas me tocam de dor, ou seja com o punhal da morte.
Vem isto a
propósito de que, hoje, quando entrava no carro a rádio noticiava o
desaparecimento de alguém que conheci, ainda criança. Exerci mestria no grupo
em que se integrava. Lembro-me de alguns breves episódios vividos no contexto
do meu exercício profissional. Ele, como tantos outros, depois de completado
determinado ciclo de aprendizagens, desapareceu do nosso horizonte de
relacionamento. Até que vem um dia, em
que alguns nos abordam, referenciando-nos em determinado sítio em certo tempo.
Tempo esse, que a eles e elas, lhes transformou o rosto de crianças em homens e
mulheres de vida. A nós adultos, esse carregar dos
dias aos olhos deles pouco se alterou. Há quem não sinta qualquer
vontade de trocar palavras, por não gostar, por acanhamento ou comodismo. Mas
há muitos outros que reagem de forma diferente. Assim aconteceu com ele. Subia
eu o Chiado, com amigo e colega, que os deuses também prematuramente me
roubaram e ouvimos chamar pelo nome da nossa profissão. Ambos olhamos. Vi que a
grandeza dos palcos em nada tinha mexido com ele. Continuava menino de ligeiras
sardas e cabelo liso. Falamos muito rapidamente de muita coisa, que podia ser
nada e só ter um significado:gostamos de nos rever
Entre a ânsia da fazer perfeito, de
decididamente apaixonar-se por aquilo em que se envolvia, entre a agitação das
ondas do mar e sei lá se alguma crise de existência, dedilhou a sua superior
sensibilidade no derradeiro concerto entre a
natureza e a vida.
Ficamos com um
recital adiado.
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